Ataques a pessoas ligadas à política têm traços de pistolagem
Os cinco ataques a personagens da cena política do Ceará, em apenas 21 dias de campanha eleitoral, remonta à História. Armamento, transporte, motivos e pagamentos diferenciados mostram que a pistolagem política mudou. Mas ainda confere poder e elimina adversários. O processo eleitoral municipal, principalmente em cidades com certa instabilidade política, pode trazer à tona aspectos de crimes cometidos em séculos passados.
Na avaliação de estudiosos do tema, muito mudou. No lugar de cavalos, os matadores montam em motocicletas para executar pessoas. As armas são menores e mais rápidas. Os assassinatos não são mais nas propriedades rurais — pode ser em órgãos da administração pública. A vítima, antes nome com peso social, pode ser apenas alguém envolvido na política. O mandante deixou de ser o mais rico ou influente — basta ter uma quantia razoável de dinheiro para mandar matar.
Para o coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) e pesquisador César Barreira, os crimes de pistolagem envolvendo o processo eleitoral demonstram uma imaturidade política. “Essa disputa que envolve eliminação de candidato é normalmente quando a cidade não tem a relação política totalmente constituída. E é preocupante, porque já são cinco casos”, cita.
Outra mudança nas execuções com envolvimento político, conforme o pesquisador, é o leque de mandantes e executores. “Hoje, qualquer pessoa é mandante, por pouco dinheiro. E os próprios delegados dizem que qualquer ‘pirangueiro’ é pistoleiro”, comenta. Os alvos também tiveram o perfil modificado.
As relações entre os dois personagens da pistolagem, ainda de acordo com César, vai além do crime e encontra respaldo na falta de legislação específica para a tipologia criminal. “Não existe crime de pistolagem na lei. Geralmente os casos são julgados como crimes hediondos. Mandante e pistoleiro deveriam ser peças do mesmo processo”, pondera.
São João do Jaguaribe
“O primeiro prefeito de São João do Jaguaribe contou que, na época das eleições, nem a Polícia entrava na Cidade, com medo. Eram os políticos que contavam os votos. É um dos lugares historicamente mais violentos”, conta a socióloga Peregrina Fátima Capelo Cavalcante, que desenvolveu tese de doutorado sobre a trajetória da pistolagem no Ceará.
Foi no município mencionado por ela que morreu, segunda-feira, 5, o vereador José Elbio de Almeida Chaves. Icó, Cariús, Senador Pompeu e Caucaia também registraram ataques. Além do vereador, o policial civil Cláudio Nogueira foi assassinado, em Senador Pompeu. Ele concorria a cargo de vereador em Quixeramobim.
As motivações que deram início à pistolagem são fundamentadas no poder e na posse de terras, e remontam ainda ao século XVIII. O pistoleiro surgia como um funcionário das grandes fazendas. A socióloga destaca que hoje há tabelas de preços para que os pistoleiros “comerciais” matem. “Para matar um candidato a prefeito é bem mais caro do que matar um vereador”, exemplifica.
O Povo
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