DEPUTADO DUQUINHA DIZ QUE RADIALISTA ASSASSINADO EM CAMOCIM NÃO VALIA NADA
No dia seguinte ao assassinato do radialista
Gleydson Carvalho, o deputado Manoel Ducca (PROS) disse, sorrindo, no plenário
da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, que "ele não valia
nada". Carvalho foi morto a tiros nesta quinta-feira, 6, no estúdio da
rádio onde trabalhava, na cidade de Camocim, a 379 km de Fortaleza.
O deputado, conhecido como Duquinha, é 2º secretário
na Assembleia, mas presidia a sessão quando o deputado Ely Aguiar (PSDC), que é
radialista, rendia uma homenagem à vítima e chamava a atenção para o elevado
número - cinco - de profissionais do rádio assassinados no último ano. Foi
quando fez um aparte. "Com todo respeito a você, Ely, mas esse era coisa
muito ruim esse homem. Com todo respeito, esse ai não valia nada", disse
Duquinha. O episódio foi registrado pela TV Assembleia do Ceará.
À reportagem, o deputado confirmou a história.
"Disse e assino embaixo", afirmou. "Ele não prestava mesmo. Pode
dizer em seu jornal aí", disse novamente sorrindo. "Era um mentiroso
e só fazia inimigos". Questionado se não seria um desrespeito fazer o
comentário no dia seguinte à morte do radialista, Ducca disse que "falava
com ele vivo e falo com ele morto. Tanto faz".
Ely Aguiar lamentou o episódio. "Foi um momento
infeliz", disse ele, lembrando o aumento da prática de pistolagem contra
jornalistas e radialistas. "Isso é uma prática nefasta que não se deve
aceitar de forma alguma. Existem os meios legais de se reclamar quando algum
jornalista se excede", disse.
Duquinha é irmão do deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE),
citado pelo delator da operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa, como emissário
do presidente do Senado, Renan Calheiros, para cobrança de propinas junto à
diretoria de Abastecimento.
Os irmãos, que têm fama de truculentos no Ceará, têm
base eleitoral na região de Acaraú, no noroeste do Estado, a 253 km de
Fortaleza, onde Gleydson Carvalho já trabalhou.
Na década de 1990, ambos foram processados,
suspeitos de serem mandantes da morte do prefeito da cidade, João Jaime
Ferreira Gomes, que anos antes havia denunciado os irmão s por desvios de
recursos esquema de propinas e assassinatos. Questionado, Duquinha afirmou que
o processo foi arquivado. "Tá arquivado. Não misture as coisas não,
cara".
Estadão
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