EM REUNIÃO DO PMDB, DANILO FORTE DIZ QUE MICHEL TEMER NÃO DEVE PEDIR PARA COMPANHEIROS APOIAR DILMA NOVAMENTE
Dilma
Rousseff, o governo e o PT foram submetidos a uma sessão de espancamento verbal
durante reunião da elite do PMDB. Havia na sala algo como uma centena de
políticos —de dirigentes estaduais e congressistas aos mais renomados caciques
da legenda. Não houve quem se animasse a defender a presidente. Ela apanhou
indefesa.
A
reunião foi convocada para pavimentar a convenção de 10 de junho, na qual o
partido decidirá se vai ou não renovar a aliança com o PT, reconduzindo o
vice-presidente Michel Temer à chapa de Dilma. O próprio Temer abriu o debate.
Mencionou o apoio que havia recebido horas antes, por escrito, dos diretórios
de São Paulo e de Minas Gerais. E manifestou o desejo de obter a solidariedade
dos demais.
Temer
disse compreender as particularidades de cada região. Mas fez um apelo à
unidade. Tomado pelas palavras, espera atrair para a tese da reedição da
aliança nacional com Dilma até os votos dos correligionários que guerreiam
contra o petismo nos seus Estados. Após a manifestação de Temer, seguiu-se a
pancadaria.
Discursaram
contra a aliança representantes do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Pernambuco, Ceará, Mato Grosso do Sul e Goiás. A favor, além de São Paulo e
Minas, que já haviam falado por escrito, apenas Alagoas, Pará e Amazonas. Os
representantes dos demais Estados preferiram o silêncio.
Aliado
do senador Jarbas Vasconcelos, cujo grupo está fechado com a candidatura
presidencial de Eduardo Campos (PSB), o deputado Raul Henry, presidente do
diretório pernambucano do PMDB, resumiu assim o encontro: Ficou claro que o
resultado da convenção é imprevisível, disse. A quantidade de gente que ficou
calada, sem defender o governo ou a aliança, impressionou muito. Esse pessoal
pode falar na urna da convenção, onde o voto é secreto, acrescentou Henry.
O
deputado cearense Danilo Forte, adepto da tese de que o PMDB não deveria se
aliar a nenhuma candidatura presidencial, disse no encontro que respeita muito
Michel Temer. Porém, acha que o vice-presidente não pode pedir aos companheiros
de partido que apoiem Dilma novamente.
A
Dilma não gosta da gente, disse Danilo. Ela menospreza e ridiculariza o
partido. De resto, segundo as palavras do deputado, a presidente já tem
dificuldades de andar na rua sem ser hostilizada. Danilo fez uma constatação: a
quase totalidade da bancada do PMDB da Câmara acha que o ciclo do PT no poder
federal chegou ao fim. Algo que, segundo ele, é confirmado pelas pesquisas e
pelas praças.
Fizeram
algo parecido com um contraponto aos críticos duas das mais controversas vozes
do PMDB: o alagoano Renan Calheiros e o paraense Jáder Barbalho. Ambos
defenderam a renovação da aliança, não Dilma, o governo dela ou o PT. A
manifestação de Jáder, por sui generis, dá uma ideia do espírito que guiou o
encontro do PMDB.
O
morubixaba paraense declarou estar de acordo com as ressalvas expostas na
reunião. Mas afirmou que o avião da sucessão presidencial está prestes a
aterrissar. Já não há tempo para fazer um cavalo-de-pau na pista, disse Jáder.
Não dá mais para promover uma alteração de rota, acrescentou.
A
certa altura, o deputado mineiro Newton Cardoso, sutil como um elefante, buliu
com quem estava quieto. Dirigindo-se ao baiano Geddel Vieira Lima, candidato ao
Senado numa coligação com o DEM e o PSDB, Newtão, como é conhecido, disse que o
correligionário não pode apoiar o presidenciável Aécio Neves, a quem chamou de
desonesto.
Ninguém
tem autoridade política no partido para dizer o que eu posso ou não posso fazer
na Bahia, respondeu Geddel. Ele recordou 2010, ano em que diz ter caído no
conto do palanque duplo. Coisa de papel passado. Concorria nessa época ao
governo da Bahia, contra o petista Jaques Wagner.
Moreira
Franco, hoje ministro da Aviação Civil, redigira o documento com as regras do
acerto, disse Geddel. Levado aos ‘três porquinhos’, como se autodenominaram os
petistas que coordenavam a campanha de Dilma (Antonio Palocci, José Eduardo
Cardozo e José Eduardo Dutra), o texto foi aprovado. Porém, iniciado o
lufa-lufa, o documento virou letra morta. Dilma e Lula fizeram campanha apenas
para o petista Wagner. E nenhuma voz do partido se ergueu contra o acinte,
queixou-se Geddel, antes de repetir que não vê ninguém com autoridade política
para contestar sua parceria com Aécio e a turma dele.
O
encontro do PMDB ocorreu nesta quarta (14), no Hotel San Marco, no Setor
Hoteleiro de Brasília. Começou pouco depois das 14h e terminou depois das 18h.
Na saída, Temer disse aos repórteres que a “quase unanimidade'' do partido
manifestara-se a favor da preservação da aliança com Dilma e o PT. De duas,
uma: ou Temer computou silêncio como consentimento ou testemunhou uma outra
reunião.
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